Professores de Física do ensino médio de São Paulo/SP, avaliando o nível de aproveitamento de seus alunos e os recursos utilizados, concluem pela necessidade de interferir no processo ensino-aprendizagem, planejando situações didáticas que pudessem auxiliar o professor. Este grupo veio a constituir o GETEF - Grupo de Estudos em Tecnologia de Ensino de Física, coordenado pelos Professores Fuad Daher Saad, Paulo Yamamura e Kazuo Watanabe que, por sua vez, elaborou o projeto FAI, com a colaboração de outros 14 professores. Grande parte desses professores era efetiva da Rede Estadual de Ensino de São Paulo; seis deles eram do Instituto de Física; dois do Instituto de História; um do Instituto de Psicologia e outro da Faculdade de Comunicação e Artes, todos da USP. Os demais eram convidados de outras instituições.

O GETEF dedicou-se a trabalhar dentro dos parâmetros preconizados pela Tecnologia Educacional, em especial a Instrução Programada. O ponto básico é o do maior envolvimento do aluno no processo de ensino-aprendizagem, o que, em outras palavras, passa a ser entendido como ensino individualizado. Os propósitos assumidos pelo Grupo para a elaboração do projeto se resumiam a sete pontos básicos (veja quadro).
"Fornecer ao professor uma nova metodologia de trabalho; Propiciar ao aluno uma possibilidade de aprendizagem efetiva pelo trabalho realizado (auto-instrução); Caracterizar o educador como elemento orientador, motivador, criador e avaliador dos resultados provenientes do processo de aprendizagem; Elaborar um texto baseado em um método de ensino individualizado que considerasse cada aluno como um ser individualizado com características próprias e deixasse margem para cada professor poder dar suas contribuições pessoais; Elaborar instrumentos de laboratório adaptados às nossas condições de ensino; Elaborar textos históricos para se poder propiciar aos estudantes uma visão da forma pela qual a ciência se desenvolve através do tempo; Elaborar recursos audiovisuais"


Esses pontos norteadores determinaram os procedimentos adotados pelo Grupo para a especificação dos objetivos instrucionais, conteúdos programáticos e meio instrucionais. Neste último item, estão incluídos a elaboração de textos auto-instrutivos, material de laboratório, textos históricos, recursos audiovisuais e outros. Os textos auto-instrutivos foram preparados dentro das técnicas de instrução programada linear, seguindo a concepção do Projeto Piloto. Enquanto neste as informações vinham dentro de um quadro, no FAI a seqüência era formada linha a linha, isto é, quando apresentada a informação/questão era fornecido um espaço para a resposta. Na linha seguinte à da "resposta do aluno" vinha a resposta impressa.

Saad (1977:66-68) faz uma série de considerações acerca das dificuldades envolvidas na realização de experiências nas escolas, incluindo desde a formação do professor até problemas de ordem material, mas deixa de valorizar o uso do laboratório didático desde o 1º grau, indicando quais habilidades devem ser desenvolvidas. Chama atenção ao trabalho do Prof. Noberto C. Ferreira, membro do Grupo, que desenvolveu kits com "sucata" de fácil construção pelo aluno. No contexto do FAI, o laboratório didático não se apresenta como no Projeto Piloto. Neste último, o experimento fazia parte inerente da seqüência didática e era apresentado passo a passo ao aluno, dentro do mais rígido processo de instrução programada. No FAI, os autores optaram por oferecer, ao fim de cada capítulo, alguns experimentos simples e de material acessível. Estes experimentos, no entanto, não se configuram como fundamentais para o aprendizado, caso não sejam realizados.

O "Manual do Professor" do FAI é bastante claro sobre como o laboratório didático deve ser entendido pelo professor. Na página 7 do Manual, sob o título "Como utilizar os recursos do laboratório", o professor é instruído sobre o papel do laboratório didático. O texto continua, reafirmando que a "auto-ritmação" do ensino individualizado elimina a necessidade de possuir várias unidades do mesmo equipamento e que dois alunos, formam o grupo ideal para um trabalho experimental eficiente. É enfático ao colocar que:"As experiências devem ser planejadas dentro dos recursos disponíveis. A sua eventual pequena quantidade não irá prejudicar substancialmente os objetivos do ensino de Física. O texto programado não é conseqüência de uma experiência de Física que deve ser feita. Pelo contrário, a experiência é um recurso para mostrar determinados princípios básicos já explorados pelo aluno, como acontece também com os recursos audiovisuais e conferências." (Manual do professor - FAI, 1973 :7) Mais adiante, encerra as considerações sobre o laboratório afirmando que "O único cuidado importante é de que cada experimento seja solicitado pelo aluno após este ter estudado o assunto".

Na concepção do FAI, o laboratório didático não se apresenta como elemento motivador ou de provocação para discussões que levem à sistematização do conhecimento físico. Sua presença se dá fora da linha seqüencial do conteúdo, isto é, ao fim do capítulo ou tópico de conteúdo. E seu papel está bem caracterizado: é de comprovação de leis ou conceitos. Sua obrigatoriedade é descartada em função de que todo o conteúdo deve ser explorado através do texto programado. Em outras palavras, o laboratório é um eventual complemento ao processo de ensino.

A opção por um laboratório que não precisa necessariamente ser parte integrante do processo de ensino-aprendizagem e que, quando utilizado, tem caráter comprovatório, é justificada pelos autores pelas inúmeras dificuldades relativas ao uso do laboratório didático nas escolas. A falta de infra-estrutura e material didático, aliada à pouca versatilidade e formação adequada dos professores, se junta ao rol das justificativas para a exclusão do laboratório didático como atividade imprescindível ao projeto.


Manual do Professor
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Capítulo 1
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Capítulo 2
         

Capítulo 3
 
Capítulo 4
 
Capítulo 5

 

 

Física Auto-Instrutivo