Como resgate histórico, é importante citar alguns membros desse grupo, visto que serão os autores de projetos nacionais: Plínio Meneghini dos Santos, Paulo Alves de Lima, Hydeia Nakano, Antonio Violin (membros da equipe de Mecânica do PEF), Judite F. Almeida (futura coordenadora da equipe de Eletricidade do PEF) e Fuad D. Saad (futuro coordenador do FAI) e outros que não participaram dos projetos. |
O PEF tem sua
origem no "Projeto Inicial", apresentado por Hamburger no 1o SNEF,
como já foi citado. O Projeto Inicial, por sua vez, nasceu no ano
de 1969 durante um curso em nível de pós-graduação
destinado especificamente a licenciados e professores secundários
de Física. Um grupo de "alunos-professores" na disciplina
"Tópicos de Física Geral", ministrada por Hamburger
passa discutir e planejar a produção de textos e material
instrucional de Física para o ensino secundário. Das discussões
e planejamentos, se estrutura o Projeto Inicial que "(...) propõe-se
introduzir alguns conceitos fundamentais de Mecânica, através
de experiências simples como o pêndulo simples, colisões,
planos inclinados. Os conceitos são imediatamente aplicados em assuntos
de interesse atual: movimento de satélites e de foguetes, origem
da energia solar, etc." (Hamburger, 1970: 86) Também defendia
que: "Os conceitos são, na medida do possível, descobertos
pelo aluno ao realizar experiências e fazer exercícios.
Não são 'definidos' a priori." (Hamburger, 1970: 86)
Já é possível antever, nas afirmações
acima, uma ênfase no uso do laboratório didático, através
de experimentos realizados pelos alunos. Ainda é ressaltado que "o
aluno possa aprender com o mínimo auxílio do professor"
(Hamburger, 1970: 86). Mesmo se tratando de um material auto-instrutivo,
ressalta-se que este mesmo material deve estimular o professor a investir
em novas ações educacionais. Outra intenção
é de que o material de ensino seja simples e de baixo preço.
"De preferência não deva ser necessário comprar
material especial: as experiências devem poder ser feitas com material
existente em casa ou que pode ser facilmente adquirido, mesmo em pequenas
cidades." (Hamburger, 1970: 87)
Da Equipe do Projeto Inicial, permaneceram Plinio Meneghini, Paulo Alves, Geraldo Violin, Hideya Nakano e Judite Almeida. Diomar Bittencourt e Jesuina de Almeida Pacca (mais tarde coordenadora de Eletromagnetismo) ingressaram no grupo formando a Equipe inicial do PEF. Outros professores ingressariam nos anos seguintes. Jose de Pinho Alves Filho ingressa na Equipe em 71 e passa a fazer parte do grupo de Eletricidade, posteriormente, ingressaram também Eliseu G. de Pieri e Joaquim N.B. de Moraes. |
Este esboço
de projeto e intenções somente obteve verba em meados de 1970
e foi executado no período de agosto/70 a janeiro/71. Paralelamente
à execução do Projeto Inicial, uma nova equipe,
também coordenada por Hamburger, começa a trabalhar em uma
proposta maior que convencionaram chamar de "Currículo Nacional",
nome posteriormente alterado para Projeto de Ensino de Física, PEF,
como ficou mais conhecido.
Os quatro pontos norteadores do Projeto Inicial foram base das decisões
do PEF. Como nosso objetivo é procurar pontos indicativos da presença
do laboratório didático nos projetos, citaremos apenas aqueles
que concernem ao assunto. Um deles é explícito quando esclarece
que: "O material entregue ao aluno deveria ser completo, incluindo
texto e material experimental simples e barato. Como corolário, os
experimentos de Física propostos deveriam ser realizados por todos
os alunos e não serem passíveis de omissão sem prejuízo
da seqüência" (Bittencourt, 1977:18). Chamamos atenção
para o caráter obrigatório da realização do
experimento por todos os alunos. Além disso, o experimento demonstrava
estar estreitamente ligado ao texto, sendo que a não realização
do mesmo comprometia a seqüência.
"a)
O aluno deveria trabalhar com os textos, independentemente da ajuda
do professor. Para não se limitar apenas à leitura, o
texto deveria ser entremeado de questões, solicitando não
só a leitura mas respostas às questões e realização
de cálculos e experimentos; b) os experimentos deveriam ser realizados pelos alunos e não apenas demonstrados, descritos ou sugeridos pelo professor (grifo nosso); c) o texto deveria ser escrito em uma linguagem simples, direta, coloquial, dirigida para o aluno adolescente e não para o professor; d) o conteúdo do projeto não deveria apresentar necessariamente a mesma seqüência e os mesmos tópicos de um currículo tradicional, além de dar ênfase à discussão dos conceitos e princípios da Física e não apenas ao fornecimento de fatos e informações." (Bittencourt, 1977:19) |
Discussões
sobre os pontos norteadores deram origem a conclusões (veja
quadro) que assumem a função de diretrizes para
elaboração do projeto. Com estas diretrizes o PEF se estrutura
como uma nova proposta metodológica nacional. Os autores optam por
trabalhar apenas os conteúdos de Mecânica (para dois semestres),
Eletricidade e Eletromagnetismo (um semestre cada). Esta decisão
é tomada em função da Lei 5692/70, que reduziu o número
de aulas de Física no 2o Grau (atual ensino médio). A carga
horária reduzida e a presença apenas nos dois primeiros anos
do 2o Grau determinaram a opção por conteúdos específicos,
visto que a metodologia proposta apresentaria dificuldades para varrer todo
o conteúdo do programa tradicional.
A Equipe do PEF subdividiu-se em dois grupos: o primeiro, mais numeroso,
era responsável pelo conteúdo de Mecânica e o segundo
pelo de Eletricidade. Mais tarde, foi formado o grupo de Eletromagnetismo
pelo desmembramento da equipe inicial de Eletricidade. Esta divisão
possibilitou a elaboração simultânea das diferentes
unidades, cada unidade concebida como um volume. Esta divisão facilitou
a elaboração e a "administração interna"
do projeto por parte dos coordenadores, gerais e de conteúdo, mas
também produziu algumas diferenças.
Trabalho publicado na Revista Brasileira de Física, no 1, v.1 de 1971 em co-autoria com Ernst Hamburger. No mesmo número, Hamburger e o grupo de Mecânica publicam "Um cronômetro barato", equipamento que faria parte do "kit" experimental utilizado nos ensaios da versão preliminar do PEF-Mecânica. |
Entre as diferenças,
podemos apontar a "linguagem" de cada volume. O linguajar escrito
se apresenta em um crescente, isto é, de frases mais simples e de
um vocabulário menos formal, utilizados na Mecânica, passando
pela Eletricidade com uma linguagem mediana até uma linguagem mais
sofisticada e formal no Eletromagnetismo. Outro aspecto que diferencia os
volumes ocorre entre a Mecânica e a Eletricidade. A influência
do PSSC é sensível nos textos de Mecânica comparado
com os de Eletricidade e Eletromagnetismo. A Eletricidade tem sua raiz em
um trabalho desenvolvido por Judite F. Almeida, denominado "Curso
sobre Condução Elétrica nos Sólidos para o Ensino
Médio". Almeida (1971:202) referencia que "A idéia
de preparar este curso proveio de uma série de palestras proferidas
pelo falecido professor P. Bergval, em São Paulo, em 1964."
(Lembramos que o Prof. Bergval foi um dos diretores do Projeto
Piloto e suas palestras foram proferidas enquanto coordenava o referido
projeto no IBECC.)
O conteúdo ficou restrito ao conceito de resistência elétrica e de sua dependência com comprimento e diâmetro do condutor, temperatura (NTC), iluminação (LDR) e polaridade (diodo). Este material instrucional nunca foi impresso ou editado de forma comercial. Sua produção foi de uma ou duas versões em mimeógrafo a tinta para os ensaios em escolas paulistas em 1969 e 1970. Quando da elaboração do PEF-Eletricidade este material, após algumas modificações e adaptações, foi incorporado ao texto. Na versão comercial, foi dividido em três capítulos: Resistência Elétrica, Resistência e Resistividade e, por fim, Condução nos Sólidos. Na versão comercial, foi dividido em três capítulos: Resistência Elétrica, Resistência e Resistividade e, por fim, Condução nos Sólidos. |
A proposta
do curso era eminentemente "experimental sendo o material utilizado
de fácil manejo e relativamente de baixo custo" (Almeida, 1971:192).
O acervo experimental
do PEF reúne cerca de 52 experimentos (sete de Mecânica, 25
de Eletricidade e 20 de Eletromagnetismo). O material experimental é
oferecido por meio de três kits, um para cada conteúdo. O material
era relativamente simples e de fácil aquisição. Na
época de sua elaboração, o material de Eletricidade
apresentava um problema adicional, a necessidade de um multímetro,
cujo preço, por vezes, fugia dos orçamentos escolares, pois
era importado. Hoje em dia, com os multímetros digitais baratos,
tal problema seria de fácil solução. Estava previsto
que um kit experimental serviria grupos com quatro alunos, de maneira que
uma sala padrão deveria ter cerca de 10 conjuntos, o que satisfazia
plenamente um dos objetivos traçados, o de que os alunos deveriam
realizar os experimentos, não o professor.
Para as demais diretrizes serem alcançadas, a Equipe do PEF optou
por produzir um texto cuja metodologia não era muito ortodoxa. O
resultado foi um texto dirigido ao trabalho ativo do aluno, com uma parte
individual e outra parte em grupo, esta para atividades de discussão
ou para a realização de experimentos. O livro se estrutura
em blocos de textos discursivos, entremeados de questões respondidas
no próprio livro texto, em espaço próprio. Após
um conjunto de questões as respostas eram fornecidas ao aluno. Era
sugerido que o aluno respondesse às questões individualmente
e depois discutisse com os colegas, procurando as justificativas de sua
resposta, para só então buscar a resposta do livro.
Os capítulos se dividem em seções e, conforme a programação
planejada, oferecem um tratamento teórico ou experimental de forma
ininterrupta. Os experimentos são partes integrantes da seqüência
didática do texto, isto é, não existe em separado um
guia experimental ou de trabalhos práticos. As orientações
e instruções para realização do experimento,
as variáveis a serem observadas, a forma e os dados a serem coletados
são informados no corpo do próprio texto. O registro dos dados
e os gráficos eventualmente solicitados são feitos no próprio
texto em espaço reservado. A análise e as conclusões
são analisadas através de questões que estabelecem
uma espécie de diálogo com o aluno.
A incorporação do laboratório de forma concomitante
com a explanação da parte teórica é uma inovação
metodológica do PEF, realizada a partir de uma adaptação
muita bem feita da Instrução Programada. Os experimentos propostos
exigiam a participação ativa do aluno para que ele pudesse
dar seqüência ao texto. Assim, o laboratório se tornou
obrigatório para a continuidade do texto. Nenhum experimento poderia
ser dispensado, tal a junção teoria-experimento.
A intensidade com que o laboratório está presente, especialmente
em Eletricidade e Magnetismo, pode sugerir que a sua inclusão está
justificada pelo fato de ter sido concebido por meio da Tecnologia da Educação.
Ao contrário, esta apenas forneceu instrumentos para organizar a
seqüência didática e não foi determinante na opção
entre uma abordagem experimental e uma abordagem não experimental.
A presença do laboratório no PEF se fundamenta em duas idéias:
que o laboratório é motivador do aprendizado e que o laboratório
auxilia o aprendizado de Física. A motivação se auto-justifica,
ao mesmo tempo em que se coloca como "opcional" no processo ensino-aprendizagem.
A segunda fundamentação continua impregnada da idéia
de que o laboratório é facilitador da aprendizagem sendo,
portanto entendido como uma abordagem metodológica. E, neste raciocínio,
pode-se afirmar que existe outra ou outras abordagens, tão boas quanto
ela, fazendo dela apenas uma escolha. Além disso, os projetos estrangeiros
sempre apresentaram o laboratório como ponto forte e inovador, o
que também justificava sua inclusão no PEF. Leituras atuais
poderão justificar o laboratório de outra forma , mas à
época de sua elaboração, tais leituras não eram
as determinantes. Os autores (entre eles eu) tinham a convicção
que o laboratório era um elemento fundamental para auxiliar a aprendizagem
e que permitia alcançar os objetivos comportamentais de uma forma
mais eficiente.
A convicção mencionada era de origem intuitiva e movida pela
influência dos projetos estrangeiros e não em uma razão
teórica que a justificasse.
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