O maior representante do movimento inovador no ensino de ciências foi o projeto de Física do Physical Science Study Committee, mais conhecido pela sigla PSSC, iniciado em 1957 nos EUA. Sua tradução para o português foi liderada por uma equipe de professores do IBECC [4] entre 1961 e 1964, na Universidade de São Paulo. O PSSC teve o mérito de modificar substancialmente a percepção do que se entendia por ensino de Física até aquela época. Independente dos motivos político-ideológicos que justificaram sua elaboração, a proposta metodológica foi revolucionária. Um texto totalmente diferenciado, utilizando uma linguagem moderna, apresentava um seqüencial de conteúdo novo e incorporava tópicos pouco explorados no corpo dos textos tradicionais. Questões abertas foram inseridas no próprio texto e o laboratório passa a fazer parte integrante do curso. A prática experimental tinha sua inserção, à medida que fazia a inter-relação com a teoria no desenvolvimento da Física. Como novidade, filmes, produzidos especialmente para o projeto, são agregados como ferramentas de ensino.

O conteúdo aliado a uma dinâmica metodológica, que por sua vez fazia uso dos diferentes recursos já enumerados, se faz presente concomitantemente em todos os momentos do curso. Desta forma, a novidade maior do PSSC estava na pluralidade de seus meios e no sincronismo de sua aplicação. A participação ativa do estudante era estimulada pelas discussões promovidas pelo professor através de questões abertas, manipulação experimental, etc.

Com relação ao programa de laboratório contido no PSSC, observa-se, para a época, um espetacular avanço. Dos cinqüenta experimentos que compõem seu acervo básico, alguns são de natureza qualitativa e outros são quantitativos. É importante destacar que muitos dos experimentos, do ponto de vista didático, são novidades. Entre eles destaca-se o "tanque de ondas", para o estudo de ondas. São experimentos que, além de fugir das tradicionais experiências demonstrativas, são inovadores na concepção de sua "montagem".

Uma das premissas da proposta do PSSC era fazer com que o estudante tivesse uma participação mais ativa em todas as atividades, exigindo que todos os alunos realizassem o experimento ao mesmo tempo. Do ponto de vista estrutural, essa exigência criou a necessidade de produzir e oferecer equipamentos que se caracterizavam pela simplicidade e robustez A simplicidade diminuía o custo e a robustez permitia a manipulação pelos próprios alunos. No início do projeto, foi o envolvimento dos alunos na construção de seus próprios equipamentos, idéia posteriormente afastada. A organização final dos equipamentos resultou em pequenos "kits".

Os "kits" experimentais tornaram-se bastante conhecidos, por se constituírem em caixas que continham o equipamento básico necessário para os experimentos. A idéia foi adotada por diversos projetos de ensino.


Outra inovação, se compararmos a nova abordagem com o uso tradicional do laboratório como elemento demonstrativo/confirmativo está na recomendação de que os experimentos sejam realizados "antes de seus tópicos serem apresentados no texto". À primeira vista, pode parecer que está sendo explorada a faceta da motivação.

É inquestionável o aspecto inovador e revolucionário do PSSC. O programa proposto incorpora conteúdos nunca tratados nos programas tradicionais, além de incorporar toda uma gama de metodologias de ensino nunca utilizadas de maneira simultânea. Seu pioneirismo ainda hoje deve ser respeitado pelo que representou para o ensino de Física, cuja história pode ser dividida em "antes e depois do PSSC". Mesmo seus opositores não negam o seu papel instigador e promotor de novas opções metodológicas para o ensino.

O PSSC foi também, num certo sentido, um marco de incoerências. Se não obteve o sucesso esperado e desejado no ensino secundário americano, foi o projeto de Física mais disseminado por meio de inúmeras traduções, inclusive para o russo, demonstrando um sucesso mundial. No Brasil, sua porta de entrada foi às disciplinas de Instrumentação para o Ensino de Física, formando toda uma geração de professores. Muitos deles exerceriam, no futuro, grande influência no ensino e na pesquisa em Física. Se houve algum sucesso do PSSC no Brasil, ele ficou restrito aos cursos de formação de professores. Anna Maria P. Carvalho, em sua tese "O Ensino de Física na Grande São Paulo", de 1972 analisa com detalhes a adoção do programa do PSSC por alguns professores de escolas da grande São Paulo. Chamam a atenção suas conclusões constatando que os professores tiveram forte influência do PSSC, mas o número de adotantes foi muito pequeno. As razões são várias, mas a predominante é a falta de condições básicas como, por exemplo, salas para o laboratório, os kits experimentais, os filmes e o equipamento necessário para projeção. Entretanto, chama a atenção o fato de que mesmo não adotando o PSSC, uma enquete revelou que houve uma melhora no ensino de Física, seja pelo fato dos professores escolherem com mais cuidado o livro didático, seja por outras metodologias utilizadas em sala de aula. Essa mesma enquete acusou um uso mais freqüente do laboratório didático e a introdução de técnicas de discussão. Em suma, houve uma mudança de comportamento do professor, que procurou colocar em uso algumas das metodologias introduzidas no programa do PSSC. Carvalho apresentou a hipótese de que "A introdução do PSSC em nosso meio educacional provocou uma mudança no ensino de Física e que esta mudança ocorreu, principalmente, na metodologia empregada" (Carvalho, 1972: 136), confirmada pelos resultados de sua enquete.

Outra conclusão que Carvalho apresenta diz respeito à "influência do PSSC nos projetos de ensino de Física em elaboração no Brasil". (Carvalho, 1972: 137) Esta, certamente, foi a mais duradoura das influências do PSSC: aquela exercida sobre os docentes que se envolveram em pesquisas em ensino de Física quando da produção dos projetos brasileiros.

O PSSC permanecerá na história do ensino da Física como uma das maiores fontes de inspiração de inovações e investigações para o ensino de Física. Ser a favor ou contrário à proposta do PSSC é, no mínimo, reconhecer e aceitar seu papel histórico, como instrumento modificador de uma visão pragmática e tradicionalista no ensino de Física. A dinâmica proposta de um curso com discussões e atividades dos alunos em classe, visão moderna do conteúdo ministrado e um laboratório didático participativo, sem dúvida demarcou novos procedimentos didáticos para serem, senão adotados, no mínimo estudados para futuras propostas.

Você agora terá oportunidade de conhecer um pouco do PSSC. Vamos mostrar as capas (iguais para todos os volumes), os prefácios da edição brasileira e americana e o índice de cada volume. Como exemplo escolhemos o Capítulo "A GRAVITAÇÃO UNIVERSAL E O SISTEMA SOLAR", pertencente ao livro 3.

Os Guias do Professor também são apresentados da mesma forma, com espaço especial para o Capitulo 22.

Infelizmente este projeto assim como os demais, não são mais editados. Eventualmente em "sebos" poderão ser encontrados alguns volumes perdidos, ou em algumas bibliotecas de escolas e universidades.

   
Guia do Professor de Física   Parte I   Parte II
     
Parte III   Parte IV    

 

Física - Physical Science Study Committee