APRESENTAÇÃO
 
 

A Ciência vem evoluindo com velocidade crescente. O número de informações disponíveis dobra aproximadamente cada dez anos. Mais rapidamente ainda cresce a aplicação da Ciência e seu impacto na vida diária, tornando cada vez maior o problema do ensino básico de Ciências ao jovem.

Este grave problema foi relegado pelo Homem de Ciência até bem recentemente. O ensino de Ciências, quer nas escolas primárias, quer nas escolas médias, e, com o tempo, até o dos primeiros anos dos cursos superiores, nem sempre foi entregue aos elementos mais capacitados. "Educadores" infiltraram-se no ensino de Ciências, e, nada conhecendo de Ciência, de sua evolução e estrutura, tornaram êste ensino o mais eficiente método de limitar a evolução cultural e técnica de um povo.

Em 1950, organizamos o IBECC-UNESCO, Seção de São Paulo, iniciando entre nós um
movimento, através do qual chamávamos a atenção para a importância do problema, e alertávamos os cientistas para liderarem a reforma do ensino de Ciências. Lutando contra a indiferença do Homem de Ciência, preocupado com a marcha de seu setor de investigação, conseguimos lentamente, nos anos seguintes, prosseguir em nossas atividades, e, em 1954, já desenvolvíamos um amplo programa para atacar os problemas mais agudos e característicos de nossa formação, particularmente o do desinterêsse pela experimentação.

Em 1957, fomos aos E. U. A. conhecer um famoso físico que, com outros colegas, liderava lá um movimento semelhante - o Prof. Francis L. Friedman, do MIT, trágica e prematuramente desaparecido, justamente na época em que planejava nos visitar. A éle, a nossa comovida homenagem. Tomamos conhecimento, através do Prof. Friedman, do gigantesco esfôrço desenvolvido pela equipe do PSSC, na qual se destacava o Prof. Jerrold R. Zacharias, também do MIT, e que congregava um grande número de físicos famosos, alguns dos quais nobelistas, professôres de escolas médias, e industriais, tendo realizado um trabalho que revolucionou o ensino da Física e de tôda a Ciência.

Que razão nos levou a escolher o Curso do PSSC para o Brasil? Não foi certamente porque não dispúnhamos de vinte milhões de dólares para realizar um projeto semelhante, ou porque não contássemos com um grupo de físicos de igual envergadura, ou porque não estivéssemos habituados a ensaiar cientificamente projetos de inovações no ensino que envolvem o futuro de nossa mocidade. Fizemo-lo porque nos convencemos de sua excelência, acompanhando cuidadosamente sua evolução nos Estados Unidos, desde seu início, e realizando alguns testes no Brasil. E em 1961, enviamos aos E. U. A. um dos elementos de nossa equipe de professôres, para participar de um Curso de Verão, através do qual tomamos contacto direto com o Curso do PSSC.

Em janeiro de 1962, organizamos o I Curso de Verão, no qual foram preparados quarenta professôres, hoje liderando o PSSC na América Latina. Na oportunidade, veio a São Paulo, para dirigir o Curso, entre outros professôres dos E. U. A., o Dr. Uri Haber-Schaim, do Educational Services Incorporated, entidade que supervisiona o PSSC. O Curso foi repetido em 1963, desta vez com caráter nacional, dirigido por um grupo de professôres do Brasil, acrescido de um professor-visitante dos E. U. A. E, aos poucos, vão se multiplicando os cursos locais, liderados pelos participantes do I e II Cursos de Verão.

O PSSC não é um livro-texto, mas uma combinação de texto, guia de laboratório, guia para o professor, equipamento específico, filmes, testes e literatura complementar, o conjunto representando uma nova filosofia de ensino de Ciência.

Hoje, como nós, numerosos países americanos, europeus, asiáticos, e africanos, estão preparando a tradução das publicações do Curso do PSSC. Em 1962, lançamos o Guia de laboratório, primeira tradução mundial. Foi êle usado no I e II Cursos de Verão, bem como em Cursos de Verão de diversos países da América Latina. Ainda em 1962, através do Plano de Emergência do Ministério da Educação e Cultura, sendo Ministro o Prof. Darci Ribeiro, iniciamos a tradução do livro-texto e dos filmes. Está a cargo da Editôra da Universidade de Brasília a edição preliminar do livro-texto em quatro volumes, correspondentes às quatro partes do original, cada um conjugado à respectiva parte de laboratório. Também, com o auxílio da Editora da Universidade de São Paulo, iniciamos a publicação dos livros da Science Study Series, que constituem a literatura complementar do Curso.

Fabricamos em nossas oficinas, e estamos fornecendo, todo o equipamento idealizado no ESI, o qual coincide plenamente com o conceito que temos sôbre como deve ser o equipamento para ensino de Física na escola secundária: simples, econômico, permitindo a redescoberta de fenômenos científicos fundamentais, quantitativamente, ao invés da aparelhagem complexa e cara que pouco ou nada estimula a mente do jovem.

Não teria sido possível desenvolver tão amplo programa, sem o auxílio que nos foi prestado pela Fundação Ford e Fundação Rockefeller, e a colaboração da National Science Foundation e Pan American Union.

O programa não está terminado. Iniciamos a tradução do Guia para o professor e dos filmes. No ESI, elemento de nossa equipe colabora no preparo dos "Tópicos Avançados" do PSSC, para nível universitário.

Será êste o ponto final? A Física continuará crescendo certamente, e caberá aos físicos a contínua avaliação, no sentido de indicar as introduções que se fazem necessárias e o que lhes deve ceder lugar.


Dr. ISAIAS R.AW
Diretor Científico do UBECC-UNESCO.
Seção de São Paulo

Principal
Parte I

 

Física - Physical Science Study Committee