O Physical Science Study Committee é constituído por um
grupo de professôres de física, de nível universitário
e secundário, trabalhando no desenvolvimento de um curso aperfeiçoado
de introdução à física. O projeto teve início
em 1956 com uma doação da National Science Foundation,
a qual forneceu a principal ajuda financeira. A Fundação
Ford e a Fundação Alfred P. Sloan contribuiram, também,
na manutenção do programa.
Êste livro-texto é a alma do curso do PSSC: nêle
a física é apresentada não como um simples conjunto
de fatos, mas bàsicamente como um processo em evolução,
por meio do qual os homens procuram compreender a natureza do mundo
físico. Além do livro-texto existem, estreitamente correlacionados,
um guia de laboratório e um conjunto de aparelhos modernos e
baratos, um grande número de filmes testes padronizados; uma
série crescente de publicações preparadas por expoentes
nos respectivos campos e um extenso livro do professor, diretamente
ligado ao curso.
O curso de física do PSSC é o resultado do trabalho realizado,
por mais de quatro anos, por algumas centenas de pessoas, em sua maior
parte professôres de física de colégios e universidades.
Há, no fim do livro, uma resenha desta colaboração.
É oportuno destacar, entretanto, o trabalho de dois dêstes
colaboradores. O Professor Jerrold R. Zacharias, do Departamento de
Física do Massachusetts Institute of Technology, reuniu um grupo
de expoentes em física e em educação, que deu origem
ao projeto; êle trabalhou ativamente em tôdas as fases do
projeto. O Professor Francis L. Friedman, também do Departamento
de Física do MIT, e membro do Comitê desde o início,
desempenhou o papel principal no desenvolvimento do livro-texto, e contribuiu
significativamente em tôdas as partes do programa.
Êste nôvo curso difere de forma marcante, sob muitos aspectos,
do curso de introdução à física, habitualmente
ministrado nos Estados Unidos. Para ter certeza de que êste nôvo
sistema era consistente e suscetível de ser aplicado, foi solicitado
o auxílio de professôres e alunos. Em 1957-58, oito escolas
e 300 estudantes experimentaram os primeiros materiais. Seus comentários
e sugestões ajudaram a melhorar e ampliar o conteúdo e
o sistema. Depois, em 1958-59, aproximadamente 300 escolas e 12.500
estudantes valeram-se do curso, e em 1959-60, quase 600 escolas e 25.000
alunos participaram do terceiro ano de prova. O curso foi, então,
cuidadosamente revisto, à luz desta experiência.
As reações de professôres e alunos mostram que uma
grande percentagem de estudantes se interessa por êste curso,
e com bom aproveitamento. Seus conceitos se firmam por meio de trabalhos
no laboratório, análise do texto, e estudo dos filmes.
O curso atrai tanto os estudantes inclinados para as humanidades como
os já interessados em ciência.
O curso do PSSC compreende quatro partes estreitamente interligadas.
A Parte I consiste numa introdução geral às noções
físicas fundamentais de tempo, espaço e matéria:
como nós as compreendemos e medimos. Quando o aluno aprende
o alcance pràticamente ilimitado das dimensões, do imensamente
grande ao infinitamente pequeno, dos microssegundos a bilhões
de anos, êle verifica como estas grandezas podem ser medidas.
Êle aprende que os instrumentos valem como uma extensão
de seus sentidos. A experiência de laboratório mostra
que inicialmente medimos por contagem direta, e estendemos, a seguir,
nosso alcance de medidas pela calibração e pelo uso
de instrumentos simples, tais como estroboscópios ou telêmetros.
A partir destas experiências, medindo tempo e espaço,
passa o estudante à compreensão de velocidade e aceleração,
de vetores e de movimento relativo. Prossegue, então, estudando
a matéria, que vemos se movimentando no espaço e no
tempo. Neste primeiro exame da matéria desenvolvemos os conceitos
de massa e de sua conservação. Usamos, então,
a evidência experimental acumulada por físicos e químicos
para concluir que a matéria é formada por um número
relativamente pequeno de átomos diferentes. Prepara-se, no
laboratório, a experiência direta. Aí os estudantes
calculam, por exemplo, o tamanho de uma molécula, a partir
de medidas de finas películas de óleo. Filmes complementam
esta prática direta de laboratório, mostrando experiências
que estariam além do alcance de estudantes.
Do comêço ao fim, o estudante é levado a concluir
que a física deve ser estudada como um todo. Tempo, espaço,
e matéria, em particular, não podem ser separados. Êle
percebe, além disso, que a física é um assunto
em desenvolvimento, e que êste desenvolvimento resulta do trabalho
de imaginação de homens e mulheres a êle semelhantes.
0s tópicos no curso do PSSC são escolhidos e ordenados
de modo a evoluir do simples e do comum às mais sutis idéias
da física atômica moderna. Na Parte I avistamos um amplo
quadro do universo. Ao examinarmos mais detalhadamente certos campos
da física, iniciamos, na Parte II, o estudo da luz. Vivemos
pela luz, e, o estudante passa sem dificuldade ao estudo de sombras
nítidas e difusas, da reflexão em espelhos, e da refração
da luz em superfícies ópticas. A evolução
natural do tema nos leva a desenvolver uma teoria (ou modêlo)
corpuscular da luz. A discussão dêste modêlo ilustra
repetidamente o modo pelo qual se desenvolve, virtualmente, todo conhecimento
científico. Filmes como por exemplo o filme sôbre a pressão
da luz - ajudam, de nôvo, o estudante a ir além do laboratório.
Submetido a constantes exames, o modêlo corpuscular se revela
inadequado, e o estudante percebe que necessitamos de outro modêlo
- um modêlo ondulatório. O laboratório, novamente,
fornece uma fonte insubstituível de experiência, e aqui
o estudante se familiariza com as propriedades das ondas. Êle
observa o comportamento de ondas em cordas e na superfície
da água. Êle começa a identificar o grupo de características
que constituem o comportamento ondulatório. O conhecimento
da interferência e da difração surge diretamente
do estudo de ondas em uma cuba. Pela primeira vez, possivelmente,
os halos de luz em volta das lâmpadas de rua, as côres
das manchas de óleo, e a formação de imagens
por meio de lentes, surgem como aspectos da natureza ondulatória
da luz.
Durante a primeira metade do curso, a ênfase principal está
na cinemática de nosso mundo: onde estão as coisas,
qual é seu tamanho, como se movimentam, e não por que.
Na Parte III voltamos a um estudo mais detalhado do movimento, desta
feita sob um ponto de vista dinâmico. Com aparelhamento simples
de laboratório, os estudantes descobrem a lei do movimento
de Newton. Êles aprendem a prever os movimentos quando as fôrças
são conhecidas, e a determinar as fôrças quando
são dados os movimentos. Assim preparados, acompanham êles
a extraordinária história da descoberta da gravitação
universal, a sábia suposição de Newton, que o
fêz saltar das leis conhecidas do movimento para a lei da atração
gravitacional.
Introduz-se as leis da conservação da quantidade de
movimento e da energia por uma associação entre a teoria
e a investigação de laboratório. Estas leis constituem
uma parcela substancial da Parte III, e damos ênfase a seu emprêgo
em situações nas quais não é possível
a observação minuciosa do movimento, como por exemplo
na descoberta do nêutron por Chadwick e na teoria cinetica dos
gases.
A Parte IV inicia o aluno em eletricidade e, através dela,
na física do átomo. O estudante se vale, então,
do conhecimento de dinâmica, adquirido na Parte III. Começamos
com observações qualitativas, e prosseguimos com um
estudo quantitativo das fôrças que se exercem entre cargas.
Aprendemos a medir fôrças elétricas pouco intensas,
e percebemos que a carga elétrica se apresenta em unidades
naturais. Estudamos, então, o movimento de partículas
carregadas em campos elétricos, e aprendemos a determinar as
massas do eléctron e do próton.
Segue-se uma discussão sôbre campos magnéticos
produzidos por ímãs e correntes, e um estudo das fôrças
por êles exercidas sôbre cargas em movimento. Como parte
final da eletricidade, discutimos as leis da indução,
e damos ao estudante uma percepção qualitativa da natureza
electromagnética da luz. Muitas das idéias fundamentais
são exploradas no laboratório - a lei de Coulomb, o
campo magnético em volta de uma corrente, a fôrça
exercida por um campo magnético sôbre um fio condutor
percorrido por uma corrente, são exemplos.
Valemo-nos, a esta altura, do conhecimento adquirido em escala macroscópica
para pesquisar a estrutura dos átomos. Acompanhando o trabalho
de Rutherford, estabelecemos o modêlo nuclear do átomo.
Algumas perguntas, entretanto, ficam sem resposta. Por que, por exemplo,
é um determinado átomo estável? Por que não
se desintegra ao emitir luz? Buscando as respostas, descobrimos que
a luz é tanto corpuscular como ondulatória. Percebemos,
ainda mais, que apesar da matéria se comportar como partículas,
em alguns aspectos também se comporta como ondas. Combinando
ambas as propriedades, podemos compreender a estabilidade do átomo
de
hidrogênio e a estrutura de seus níveis de energia. Dado
que nesta parte do curso a experimentação direta se
torna mais difícil e mais dispendiosa, são filmes que
trazem ao estudante experiências como a de Millikan e a da interferência
de fótons. No fim do curso, chegamos ao modêlo moderno
de átomos.
Ficou patente ser perfeitamente possível ensinar o curso do
PSSC tal como é apresentado. É um curso proveitoso para
uma ampla variedade de colégios. Os que colaboraram na estruturação
dêste curso desejam, entretanto, aperfeiçoá-lo
progressivamente. Como o Physical Science Study Committee prossegue
neste desenvolvimento, suas sugestões serão sempre bem
recebidas.
JAMES R. KILLIAN. JR.
Chairman, Board of Trustees
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