22 - 5. Kepler.
Johannes Kepler, nascido em 1571, estava em nítido
contraste com Tycho Brahe. Tycho possuía tremenda habilidade
e destreza mecânica, mas interêsse relativamente pequeno
em matemática. Kepler era desajeitado como experimentador
mas era fascinado pelo poder da matemática. Era semelhante
aos antigos gregos em sua reverência pelo poder dos números
e interessava-se por quebra-cabeças relativos a número
e tamanho. |
Depois de haver aprendido os elementos
de astronomia, Kepler ficou obcecado com o problema de encontrar
uma esquema numérico para o sistema planetário.
Êle escreveu: "Eu refletia com tôda a energia
de meu espírito sôbre êsse assunto". Devotou
sua vida à análise das tabelas das posições
planetárias que Tycho lhe havia deixado. Enfrentando o
problema de traduzir as observações de Tycho Brahe
em descrições matemáticas dos movimentos
planetários, Kepler agiu como qualquer cientista de hoje
que tenta explicar dados experimentais em têrmos de leis
matemáticas simples, e não apenas mediante tabelas
de números. Com leis matemáticas podemos não
só reproduzir os dados observados como predizer os resultados
de observações que ainda não tenham sido
feitas. Ademais, as leis matemáticas são mais fáceis
de lembrar e de comunicar do que meras tabelas de números.
Em seu primeiro livro, Kepler descreveu suas tentativas de entender
por que havia precisamente seis planêtas no sistema solar.
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22.8 - A lei de Kepler das órbitas planetárias
baseava-se nos cinco sólidos regulares. De acôrdo
com a lei, uma esfera de raio igual ao da órbita de Saturno
circunscreve um cubo (a). Uma esfera Inscrita nesse cubo tem
ralo igual ao da órbita de Júpiter. Em (b) mostra-se
a esfera da órbita de Júpiter, com um tetraedro
inscrito. Uma esfera inscrita no tetraedro dá o raio
da órbita de Marte. Em (c) a esfera relativa a Marte
tem um dodecaedro inscrito. Uma esfera
inscrita nêle dá a órbita da Terra (d).
Podemos continuar nesse processo de inscrição
alternada de esferas e sólidos regulares usando o icosaedro
(vinte lados) e o octaedro. Êsses nos darão as
órbitas de Vênus (e) e de Mercúrio (f),
que está numa esfera inscrita dentro do octaedro. Kepler
considerava os cinco sólidos como preenchendo os intervalos
entre as órbitas planetárias. Como há somente
cinco sólidos regulares, Kepler acreditava que poderia
haver apenas cinco planetas.
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Estabeleceu uma ligação entre as
seis órbitas e os cinco sólidos geométricos regulares
(*) (Fig. 22-8). A partir desta construção obteve razões
entre os raios que concordavam muito bem com os valores então
conhecidos das órbitas planetárias.
Kepler ficou extasiado. Escreveu: "O intenso prazer que sentí
com essa descoberta não pode ser descrito em palavras. Não
me importo mais
com o tempo despendido; não me incomodo de nenhum trabalho;
não fugí a nenhum trabalho de verificação,
dias e noites despendidos em cálculos, até que pudesse
ver se minhas hipóteses concordavam com as órbitas de
Copérnico, ou se minha alegria devia desvanecer-se no ar."
A relação entre os raios das órbitas planetárias
é típica da espécie de resultado que Kepler esperava
obter com os dados de Tycho. Ocorre frequentemente, entretanto, que
mesmo a mais bela correlação entre dados não
tem qualquer significado profundo para explicar a natureza das coisas.
Hoje, essa descoberta de Kepler está inteiramente esquecida.
Seu sistema está destruído pelo fato de haver mais de
seis planêtas. Mas o sétimo só foi descoberto
muito anos depois de sua morte.
Kepler descobriu outras relações matemáticas,
que sobreviveram ao teste de observações posteriores.
Começou sua grande análise dos dados de Tycho com um
estudo exaustivo do movimento de Marte. Que espécie de curva
teria Marte percorrido durante os vinte anos de observações
de Tycho? As observações dos movimentos planetários
eram feitas necessàriamente da Terra.
(*) Por corpo sólido regular entende-se um corpo simétrico
com faces planas iguais. Só podem ser construidas cinco espécies
de corpos sólidos regulares.
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