Quando queremos explicar os movimentos planetários,
entretanto, a situação é diferente. Em primeiro
lugar, certamente suspeitamos que a explicação dinâmica
será mais fácil de obter e de entender quanto mais simples
fôr a descrição do movimento. Em segundo lugar,
já sabemos que a lei do movimento de Newton somente se aplica
a certos sistemas de referência. Mesmo o movimento uniforme, que
ocorre na ausência de fôrça resultante sôbre
um objeto, não parecerá uniforme a um observador que gire
como um pião. Nêsse caso sabemos que fôrças
fictícias complicadas irão aparecer, e não encontraremos
uma explicação dinâmica simples. Consequentemente,
ao fazer a transição da cinemática para a dinâmica
é importante escolher um sistema de referência em que as
fôrças fictícias não nos confundam. Para explicar dinâmicamente o movimento planetário, precisamos escolher um sistema de referência adequado. Podemos escolher um sistema em relação ao qual a Terra esteja em repouso? A resposta a esta pergunta parece ser "não". Em qualquer sistema dêsse tipo, os movimento dos planêtas implicam em fôrças irregulares e não se encontrou nenhuma explicação dinâmica. Podemos apenas retomar o ponto de vista aristotélico de que os planêtas são diferentes de outras espécies de matéria, e se comportam de acôrdo com suas próprias leis especiais de movimento. O sistema ptolemaico era apropriado a êsse ponto de vista aristotélico. Também concordava com uma dinâmica geocêntrica para os objetos terrestres. Levava à idéia de que as órbitas dos planêtas pareciam mais simples quando vistas supondo a Terra no centro (e não em algum outro ponto). A maior simplicidade das órbitas planetárias na descrição heliocêntrica de Kepler solapa, assim, toda a descrição aristotélica. No sistema heliocêntrico, por outro lado, a Terra torna-se um planêta como os outros. Não há, portanto, razão para termos uma dinâmica geocêntrica especial. Ao invés disso, podemos procurar uma dinâmica única que inclua os movimentos dos objetos sobre a Terra e de todos os planêtas, inclusive o nosso. De fato, o ponto de vista heliocêntrico forneceu o ponto de partida para construirmos uma explicação dinâmica do movimento planetário. No restante dêste capítulo veremos como o sistema heliocêntrico se adapta à nova dinâmica de Galileu e Newton. Seguiremos as pegadas de Newton. Usaremos uma descrição heliocêntrica e um sistema de referência ligado às estrêlas fixas. Veremos então que uma lei simples para a fôrça entre dois pedaços quaisquer de matéria nos leva aos movimentos planetários observados. Tal lei os explica baseando-se na mesma dinâmica que se aplica aqui na Terra. Desde a época em que esta lei foi postulada por Newton, ela foi também verificada experimentalmente para pequenos pedaços de matéria aqui na Terra. Ela é tão válida aqui como através das distâncias astronômicas. Assim, a procura de uma dinâmica para a qual os movimentos, aqui e nos céus, sejam da mesma espécie, foi coroada de êxito. Num quadro geocêntrico, não é possivel qualquer explicação unificada. 22 - 7. Newton. Isaac Newton nasceu em 1642, o ano da morte de Galileu. Êle reuniu as descobertas de Copérnico, Kepler, Galileu e outros em astronomia e em dinâmica. A estas, êle acrescentou as suas próprias, fundindo-as numa estrutura que ainda hoje constitui uma das maiores façanhas da ciência. Tão profunda e clara era sua compreensão, que êle conseguiu aplicar as leis do movimento, com êxito, a um número espantoso de fenômenos, desde o movimento dos planêtas ao sobe-e-desce das marés. Entre o tempo de Kepler e o de Newton, havia ocorrido uma grande transformação no pensamento científico. Após o trabalho de Galileu, foi tomando corpo a idéia de que havia leis universais governando o movimento dos corpos e que elas deviam aplicar-se ao movimento no Céu assim como na Terra. As discussões científicas na Real Sociedade de Londres frequentemente focalizavam a pergunta: "Que espécie de fôrça o Sol exerce sôbre os planêtas, que os obriga a mover-se de acôrdo com as leis descobertas por Kepler?" Newton respondeu a essa pergunta, guiando-se pelas leis de Kepler. Criou uma dinâmica planetária de tanto êxito que, durante muitos anos, os cientistas queixavam-se de que nada restasse para ser feito. O primeiro esfôrço de Newton para entender o movimento dos corpos celestes foi dirigido para o estudo do movimento da Lua. Principal Parte III Anterior Próxima |
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