III WORKSHOP PRODUÇÃO ESCRITA E PSICANÁLISE (2007)
O INFERNO DA ESCRITA*
“Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que,
em tempo de grandes crises, mantêm-se neutros.”
Dante Alighieri
A experiência e pesquisa dos participantes do GEPPEP mostram
que o intervalo de tempo entre o momento presente e a hora de terminar
o que poderia ser o mais banal dos trabalhos é co-habitado por monstros
fantasmáticos, cuja presença evoca todo um rosário de orações, quando
não de imprecações e blasfêmias. Curiosos, interrogamos: o que nos
obriga a fazer de uma iniciação científica, mestrado ou mesmo doutorado
um verdadeiro deus-nos-acuda?
“Amaldiçoaram Deus, os pais, os entes
humanos, o lugar, o tempo, e mais
de sua vida a origem e as sementes.”
(v. 103-105, p. 126)
Que inferno! Quantos Cérberos teremos que derrotar para fazer do mundo
Inferior de Hades o nosso confortável refúgio? Na trilha desta questão
e, inspirados livremente em Dante Alighieri, nesta III versão de nosso
Workshop postulamos que todos faríamos um ótimo negócio se pudéssemos
transformar a tragédia costumeira do fazer acadêmico em uma divina
comédia.
“Ó tu, que glorificam ciência e arte,
quem são estes' falei, ‘com dignidade
tal que os conserva assim dos mais à parte?'”
(v. 73-75, p. 132)
Para tal fim, há muito trabalho a ser feito. Por menos drama
que estejamos dispostos a fazer, é fato que o pesquisador em formação
na área dos estudos sobre a linguagem deve, necessariamente, aprender a
lidar com uma série de desafios ao longo de seu percurso. Então, em
2007, visamos a descrever alguns desses desafios e a procurar algumas
saídas possíveis para as dificuldades encontradas por todos nós quando
decidimos beber nas turbulentas águas do Arqueonte onde nos tornamos
pesquisadores.
“Mas não sou eu sozinho aqui penando;
sob um castigo igual todos estão,
por igual culpa'. E olhou-me silenciando.”
(v. 55-57, p. 152)
Para empreender nossa aventura, selecionamos seis elementos
para fazer o papel de Caronte, isto é, fornecer impulso ao nosso
trabalho: 1) a aventura de dizer diferente a partir dos textos que
estudamos; 2) os embates com o saber já sistematizado; 3) os conflitos
na relação entre os que estão em formação e aqueles que se propõem a
formar; 4) os atrapalhos corriqueiros para encarar os dados; 5) a
coragem necessária para sustentar a esquisitice de cada um, e, 6) a
angústia inerente ao ato de escrever.
“Ó musas, estendei-me a vossa influência!
Ó mente, em que o que vi se refletia,
possas ora mostrá-lo em sua essência!”
(v. 07-09, p. 120)
A programação que se segue congrega, portanto, tentativas de
respostas para questões geradoras em torno de diversas instâncias desse
nosso inferno compartilhado que pesquisadores, em diversos pontos de um
percurso de formação, puderam elaborar por meio de nosso trabalho
conjunto.
“Assim reunida a bela escola e boa
eu vi do mestre altíssimo do canto,
que sobre os outros, como a águia, revoa.”
(v. 94-96, p. 134
PROGRAMAÇÃO
8h30 – Abertura Oficial
9h – Mesa 1: Megera, Aleto e Tesífone: a presença das três Erínias nos textos por meio dos quais somos formados.
“Enquanto ele falava, não paramos,
seguindo em meio à turba, que se abria,
das almas, como na floresta os ramos.”
(v. 64-66, p. 130)
Pergunta geradora: Como as seguintes modalizações do outro são
materializadas nos textos dados a ler durante a formação universitária:
a) aquele com quem se fala; b) aquele de quem se fala; e c) aquele a
partir do qual se fala?
Anna Maria Grammatico Carmagnani
Fábio Correia Sampaio Netto
Suelen Gregatti da Igreja
Sulemi Fabiano
Valdir Heitor Barzotto
10h30 – Mesa 2: O irresistível olhar da Medusa: o poder de sedução do que o outro já sabe.
“Antes de mim não foi coisa jamais
Criada senão eterna e, eterna, duro.
Deixai toda esperança, ó vós, que entrais.'”
(v. 07-09, p. 120)
Pergunta geradora: Quais são as saídas possíveis para encontrar
o justo limite entre tomar o conhecimento já produzido historicamente
como legado cultural e aderir a ele como algo frente ao qual nossa
possibilidade de inventar tomba petrificada?
Cibele Krause Lemke
Émerson de Pietri
Andreza Rocha
11h30 – Mesa 3: Os obscuros caprichos de Quirón: afinal o que querem os tutores contemporâneos?
“E eu, que de horror a fronte ia baixando,
‘Mestre', indaguei, ‘os ais que ouço o que são?
Que gente é esta em dor deblaterando?”
(v. 31-33, p. 121)
Pergunta geradora: Qual a diferença entre implicar-se com o
saber sem desprezar as expectativas de nosso entorno e se limitar a
tentar atender o que o “mestre” supostamente quer?
Edilene Santos Souza
Marisa Grigoletto
Tathiane Graziela Cipullo
12h30 às 14h00 – Almoço
14h – Mesa 4: O labirinto do Minotauro: a barafunda do pesquisador perdido em meio a um mar de dados.
“Chegamos a um castelo na campina,
atrás de sete muros, protegido
em derredor pela água cristalina.”
(v. 106-108, p. 134)
Pergunta geradora: Como respeitar o outro e as suas produções
tomadas na qualidade de “dados” para a nossa pesquisa, sem abrir mão de
construir um aparato para sustentar a própria palavra?
Dolores Braga
Ercilene Maria de Souza Vita
Kelly Gomes de Oliveira
Mical Magalhães
15h30 – Mesa 5: A minha força armei dentro de casa**: a lida com o que é próprio ao pesquisador.
“Mas tu, que és vivo, e vejo misturado
aos mortos, larga-os, e depressa parte!'
E como eu continuasse ali parado (...)”
(v. 88-90, p. 124)
Pergunta geradora: Partindo do pressuposto de que, por meio da
análise de sua produção escrita, seja possível identificar traços de
singularidade de quem escreve, como diferenciar o que é próprio a cada
qual, da negligência de alguns com relação às regras da cultura na qual
estão inseridos?
Claudia Riolfi
Enio Sugiyama Junior
Sonia Almeida
17h00 – Mesa 6: A Harpia que salta da folha em branco: angústia de escrever.
“Mal terminou, a imensidão escura
tremeu tão forte, que tal sofrimento
inda de horror a mente me satura.”
(v. 130-132, p. 127)
Pergunta geradora: Como enfrentar a angústia frente à necessidade e a impossibilidade de dizer?
Carlos Gomes de Oliveira
Emari Andrade
Mariana A. de Oliveira Ribeiro
18h30 – Encerramento
* Esclareça-se que todas as citações utilizadas foram retiradas de: DANTE Alighieri (1265-1321). A Divina Comédia . Tradução e comentários de Cristiano Martins. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia; São Paulo, EDUSP, 2. ed. 1979.
** Verso 151, p.219.