VI WORKSHOP PRODUÇÃO ESCRITA E PSICANÁLISE (2010)
MOVIMENTOS PELO ESCRITO: DO MEDO AO ENTUSIASMO
Caderno de Resumos
"Agora aconteceu", eu pensava a todo instante,
"agora você está dentro de uma história como sempre desejou, e é terrível." (P. 127)
Cornélia Funke *
Entendemos que, ao escolher nossa profissão, trazemos uma
porção de sonhos e de expectativas que abarcam nossa potência para dar
conta do que imaginamos ser a tarefa de lecionar, de pesquisar e de
formar novos pesquisadores. Porém, ao assumir o posto para o qual nos
preparamos e com o qual sonhamos, percebemos que a toda-potência que
julgávamos ter não se confirma. O medo é inevitável. Instala-se a
angústia, e frente a ela, podemos escolher ao menos três vias: 1)
acusar o outro, ignorando nossa responsabilidade no processo; 2)
cegarmos, nos recusando a enxergar o cenário que se desenha diante de
nós; ou 3) aceitar a convocação que nos é feita e nos engajarmos no
trabalho de pesquisa. Quem opta pela terceira via mergulha no
desconhecido, mesmo que ele esteja cheio de bandidos, fogo, capangas
cruéis, animais peçonhentos, cães farejadores e da escuridão. Toma a
escrita como um espelho que lhe permite ver o hiato entre ele e a
realidade. Se isso acontece, o sujeito adentra nos meandros da história
e torna-se capaz de ressignificá-los. Constrói outro final de história,
diferente daquele aparentemente previsto pelas suas contingências.
Nesta edição do Workshop, pretendemos refletir sobre o percurso a ser
feito pelo pesquisador para afastar-se do medo e aproximar-se do
entusiasmo. Desejamos discutir o papel que a escrita pode desempenhar
nesta empreitada. Escolhemos interrogar o medo de escrever acompanhados
dos personagens da obra Coração de tinta, de Cornelia Funke. Junto com
eles, queremos descobrir outras possibilidades para nossa história,
pela e para a escrita.
* Todas as citações do texto literário foram retiradas
de: FUNKE, Cornelia. Coração de tinta. São Paulo: Companhia das letras,
2006.